Maestro diz que Orquestra não é tratada com o devido respeito
Agenor Ribeiro Netto relata dificuldades nos últimos anos para manter atividades da OSPC
O maestro Agenor Ribeiro Netto, titular da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas (OSCP), fala sobre as dificuldades enfrentadas na atual gestão para manter a instituição em funcionamento.
Qual o seu sentimento diante do aniversário de 25 anos da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas?
Agenor – De muita alegria pelos 25 anos da OSPC, fruto do trabalho e do esforço de tanta gente. Mas de tristeza por ver tantas inverdades mencionadas por muitos que deveriam ter a noção que a Orquestra não tem sigla partidária, não é propriedade de ninguém, não é instrumento político, pois o compromisso dela e de seus integrantes é com a música.
Como assim?
Agenor – Vimos recentemente nos jornais da cidade a notícia divulgada pela Prefeitura de que a OSPC tem o maior investimento público do setor cultural. Recebemos esta informação com muita surpresa. Ficamos nos perguntando as razões que levaram a Prefeitura a divulgar esta notícia exatamente após a realização de nosso concerto de aniversário na Urca, que, diga-se de passagem, foi um grande sucesso.
Ficamos nos perguntando ainda por que o prefeito, o vice, o diretor do Grupo DME, que é nosso patrocinador, não estiveram presentes, já que se manifestam tão compromissados com a orquestra. Por que razão o ex-prefeito e atual vereador Paulo Tadeu, um dos responsáveis pela continuidade da OSPC durante o seu mandato, a quem agradecemos e que seria um dos nossos homenageados na noite, também não compareceu?
Você acha que a OSCP não é prestigiada?
Agenor – Muitas vezes nos calamos para não politizar os fatos, mas, a verdade é que nestes quatro anos da gestão atual, a OSPC não foi tratada com o devido respeito e só estamos nos posicionando agora porque já não suportamos mais sermos considerados aqueles que sugam os cofres públicos. Poderia citar, e temos tudo documentado, as inúmeras vezes que este desrespeito se materializou, seja por falta de estrutura, por falta de divulgação e principalmente, por compromissos assumidos e não cumpridos por parte da atual gestão.
Nossa orquestra foi tratada várias vezes de forma humilhantes. Nos levaram a tocar na periferia, num belo projeto chamado “Orquestra nos Bairros”. O problema é que nos locais não tinham infraestrutura para acomodar a Orquestra e o público parece não ter sido informado. Chegamos a tocar para apenas oito pessoas. Mas quando reclamei, a cara que vi não foi de bons amigos. Começava ali um relacionamento que só Deus sabe o que tivemos que engolir para mantê-lo e a OSPC sobreviver.
Você considera que a OSCP possa ter sido boicotada?
Agenor – Por incrível que possa parecer, desde 1º de janeiro de 2013, a OSPC teve somente três datas na Urca. Nunca conseguimos nada. A terceira foi literalmente uma piada de mau gosto. Procurei a Secretaria de Cultura para conseguir uma data para comemorarmos nossos 25 anos. A resposta: “infelizmente estamos lotados até o final do ano”. Eu insisti, mas nada. Dias depois recebi ligação sugerindo datas absurdas, fora de época, em dias difíceis.
Respondi que iríamos procurar outro local e divulgaríamos o fato. Ao anunciar que eu divulgaria a falta de data, a Secult me ligou para conversar. Nos ofereceram a Urca no dia 6 de novembro, às 11h. Eu perguntei se não tinha como ser à noite e a resposta foi negativa, pois o teatro já estava ocupado. Vim saber depois que seria uma apresentação da Banda Sinfônica local (que poderia ter trocado por outro dia sem problemas). Passada as eleições, nos foi oferecido o dia 15 de novembro.
Como tem sido os ensaios da OSPC?
Agenor – Ficamos sem ter onde ensaiar, pedimos socorro dezenas de vezes e nada. A Secult conseguiu dois lugares onde o primeiro não cabia a Orquestra e o outro foi negado. No final, fomos socorridos em caráter temporário pela PUC, pois depois de seis meses teríamos que sair porque o local seria ocupado. Novamente sem ter onde ensaiar, novos pedidos ao Executivo e nada… Conseguimos o galpão da Saci-pô e lá estamos até hoje.
Como funciona o custeio da Sinfonia das Águas?
Agenor – Primeiro, é importante que não se confunda Sinfonia das Águas e OSPC. A Sinfonia é um evento da Prefeitura, não é da Orquestra. Inclusive o prefeito atual registrou o evento em 2014. Anos atrás, na gestão do então prefeito Paulinho Courominas, propusemos a ele entrar com um projeto pela Lei Rouanet para a realização da Sinfonia. E assim foi feito desde aquela oportunidade.
A Prefeitura divulgar que “ajuda a orquestra nas sinfonias” soa cômico. Inclusive consta do contrato com o Grupo DME a participação nossa nas sinfonias, que são quatro anuais. Importante lembrar que quem ajuda alguém é a OSPC, contribuindo com o turismo do município em épocas de baixa temporada e divulgando o nome da cidade por todo o Brasil. Então, que fique claro: a OSPC nada tem a ver com a Sinfonia das Águas, que é um evento que pertence à Prefeitura e que, apenas somos chamados para a sua execução e isto não agrega um centavo, diga-se de passagem, nos salários dos músicos.
Quando o prefeito não tinha recursos para realizar a Sinfonia do início deste ano eu disse a ele para não realizá-la porque a OSPC não aceitava fazer um evento tão caro com a crise financeira que já abalava a Prefeitura. Mas ele insistiu em fazer e disse que a Codemig iria bancar. Não bancou, fizemos toda a propaganda dela e meses depois a Prefeitura pagou parcialmente os fornecedores.
E quanto ao fato da OSCP receber o maior aporte público do setor?
Agenor – Aparentemente, os R$ 666 mil pagos anualmente pela Prefeitura para a OSPC é um grande valor. Mas ao dividir este valor por 12 meses, temos algo em torno de R$ 55 mil mensais. Descontados os impostos, sobram R$ 47 mil. Destes recursos, tiramos outros custos de manutenção e sobram para cada músico, em média, pouco mais que R$ 500 de salário mensal para várias apresentações.
A OSPC trabalha os 12 meses do ano, além das sinfonias, realiza mais de 20 apresentações e com este valor paga tudo o que está acima: 12 meses de salários para seus 80 músicos e dois maestros. Enquanto isto, o Festival Música nas Montanhas, que também é da maior relevância, dura 10 dias (em 2017, será uma semana) e tem aportes financeiros superiores a R$ 400 mil, com um elevadíssimo pró-labore para os seus organizadores (isto é público e é fácil de se verificar). E aí nos perguntamos: quem recebe tem o maior aporte do setor?