Bastidores Dossiê Saúde 09/05/22

Em Bastidores Dossiê Saúde, versão especial da coluna Bastidores, o jornalista Rodrigo Costa destrincha as relações entre o município de Poços de Caldas e empresas terceirizadas na área da saúde, além de outros temas ligados ao setor.

DIA VIII
Após quase dez dias de internação no Hospital Municipal Margarita Morales, os familiares de José acionaram a Polícia Militar para lavrar um boletim de ocorrências. De acordo com o histórico da ocorrência, a irmã do paciente relatou os fatos que resultaram no agravamento de seu estado de saúde, disse que no dia 31 de janeiro teria surgido uma vaga para ele no Hospital Santa Lúcia e que seu irmão não foi transferido, mesmo com estado de necrose no pé, pois a vaga teria sido preenchida por outro paciente que estava internado no mesmo quarto. Os policiais tentaram contato com a médica Juliana Maranhão, diretora do Hospital Margarita Morales. Ela, porém, não se encontrava na unidade. O horário de registro da ocorrência foi às 21h44.

VERSÕES
As enfermeiras de plantão procuradas pelos policiais militares informaram que de fato um outro paciente havia sido transferido para o Santa Lúcia. Este, porém, teria convênio particular e não aguardava por um leito do SUS Fácil. A irmã de José foi orientada a aguardar do lado de fora da unidade enquanto os policiais conversavam com as profissionais.

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REGISTROS
Além dos vereadores Flávio Togni de Lima e Silva (PSDB) e Douglas Dofu (União Brasil), há registro de contato com ao menos outros três parlamentares com pedidos de socorro: Lucas Arruda (Rede), Wellington Paulista (União Brasil) e Diney Lenon (PT). Diney foi o único a comparecer ao Hospital Margarita Morales para acompanhar a denúncia de que tanto José quanto outros pacientes aguardavam por leitos do SUS Fácil há mais de 10 dias.

DIAS IX E X
No dia seguinte à visita do vereador Diney Lenon, José entrou em contato com a irmã para avisar que, enfim, seria transferido. A ambulância para a transferência deixou o Hospital Margarita Morales por volta das 17h com destino ao Hospital Santa Lúcia. Já nos primeiros atendimentos, as enfermeiras perderam a veia do paciente. O sangue de José pingava após tantas tentativas sem sucesso. Às pressas, um funcionário do Centro Cirúrgico foi acionado para tentar ajudar. José vivia sua via crucis. Com o atendimento médico adequado, porém, ele começou a apresentar leve melhora nos dois dias posteriores.

VISÕES
Apesar da melhora do quadro, uma queixa nova chamou a atenção dos familiares: visão turva e muito suor. Enquanto isso, a equipe médica do Santa Lúcia realizou um cateterismo com sucesso. Na sequência, realizaram o exame de Doppler, que serve para a investigação de anormalidades nos vasos sanguíneos, que podem gerar tromboses, varizes e aneurismas, por exemplo. Para o exame seguinte, ele já não se encontrava em condições físicas para a realização. O consenso entre os médicos é de que se ele tivesse sido transferido alguns dias antes, com seu estado de saúde um pouco melhor, as chances seriam maiores.

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CERTIDÃO
Às 15h10 do dia 15 de fevereiro de 2022, no Hospital Santa Lúcia, morreu José Ribeiro do Rosário. Marido, pai, irmão e avô. A causa da morte registrada foi choque séptico. Sepse, o motivo pelo qual ele chegou caminhando ao Hospital Margarita Morales. Sepse, o motivo pelo qual morreu.

MINSTÉRIO PÚBLICO
Pouco antes do falecimento de José e com ajuda do vereador Diney Lenon, um dos familiares redigiu uma denúncia sobre o caso no Ministério Público de Poços de Caldas. Uma das frases que mais chamam a atenção no documento é que o município não garantiu um direito seu. O direito à vida, a um tratamento adequado e digno. O recebimento da denúncia foi confirmado pela promotoria ao autor.

RODAPÉ
Para José, o Hospital Margarita Morales foi a antessala da morte.

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CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO
Na próxima coluna, a luta da família de José pelo prontuário do paciente. Leia todas as colunas anteriores aqui.

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