Entrevista: Professor Cleiton
Na entrevista, o deputado faz também um balanço do seu primeiro ano de mandato e da parceria para as eleições de 2022 com a pré-candidata a Deputada Federal Yula Merola (Avante). O Jornal da Cidade reproduz abaixo a entrevista.
Após 6 meses de trabalhos, a CPI da Cemig conseguiu atingir seu objetivo?
Professor Cleiton – Sem dúvida nenhuma. Inclusive posso dizer que se tínhamos uma meta a ser atingida, essa meta foi ultrapassada cem por cento. Atingimos o dobro do objetivo inicial. Por isso, posso afirmar categoricamente que a CPI atingiu os seus objetivos.
O Partido Novo tem um discurso de transparência, austeridade e responsabilidade com o dinheiro público. Houve alguma tentativa por parte do Governo Estadual de atrapalhar os trabalhos da CPI?
Professor Cleiton – Sim, em vários momentos. Desde quando a CPI foi instalada. Houve, inclusive, tentativa de coação, de cooptação de Deputados, dos membros da CPI. Eu mesmo recebi recados de que o Presidente da CEMIG queria me receber.
Devolvi o recado dizendo que eu também gostaria de recebê-lo para uma oitiva na CPI. Por parte direta do governo do Estado, nós percebemos, sobretudo, ações na mídia com o dobro de investimentos nos veículos de comunicação para que a investigação que acontecia na Assembleia não aparecesse, sobretudo, nos grandes canais de comunicação.
Além disso, por diversas vezes, os documentos encaminhados para a CPI, chegavam em grande volume por serem repetidos. Também recebemos uma série de documentos que não tinham nada a ver com o objeto de investigação.
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Quais os depoimentos e evidências foram colhidos que reforçam a tese de esfacelamento da Companhia com o intuito de dar inicio a um processo de privatização?
Professor Cleiton – Nós tivemos mais de 40 oitivas. Duas fases da CPI evidenciam isso. Primeiramente, a desidratação da Companhia com a comercialização dos seus ativos. Neste ponto em especial, um escândalo grande que foi a venda da participação da Light na Renova por R$ 1. A Light, naquele momento, controlada pela Cemig.
E também a comercialização da participação na Cemig, que era acionista majoritária da Light, quando nós estávamos num momento de retração econômica, num momento em que as ações estavam em baixa. Ficou evidente para nós que houve um grande prejuízo, um dos maiores do mercado financeiro nos últimos tempos no Brasil.
Em algum outro momento isso ficou claro?
Professor Cleiton – Sim, em outra fase da CPI, nas oitivas ligadas a questão de RDA, que nada mais é do que a manutenção da rede de transmissão aérea. Hoje, um problema recorrente no estado. Se nós fizermos uma pesquisa de satisfação, inclusive essa pesquisa foi feita pela ANEEL, será possível observarmos o pior resultado da história da Cemig neste aspecto.
Portanto, fica muito claro a ideia da criação de sentimento de ineficácia, de incompetência e de inoperância para que as pessoas tenham o sentimento de que a companhia precisa ser vendida pois o estado não tem mais condições de fazer o seu gerenciamento.
O Partido Novo interferiu diretamente na gestão da Cemig durante o Governo Romeu Zema?
Professor Cleiton – Esse é o caso mais escabroso da CPI. Se fossemos destacar o que a CPI averiguou de mais importante, posso dizer que foi aparelhamento da companhia pelo Partido Novo. Principalmente pelo Partido Novo de São Paulo.
Existem provas disso?
Professor Cleiton – Em todas as oitivas nós vimos isso muito claramente. Nos cargos que hoje são exercidos dentro da Companhia por pessoas ligadas ao Partido Novo. Nas empresas contratadas sem licitação. Empresas ligadas a membros do Partido Novo.
O mesmo acontecendo, por exemplo, na contratação do atual presidente da Cemig. Para a vaga ele foi entrevistado por ninguém menos do que João Amoedo, naquela ocasião presidente nacional da legenda.
Também pela figura de Evandro Negrão de Lima Júnior, um caso de usurpação de função pública por ele, que é o secretario geral do Partido Novo em Minas Gerais. Descobrimos que ele é quem mandava na Companhia.
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A CPI conseguiu identificar alguma ilegalidade na gestão da Cemig?
Professor Cleiton – Não apenas uma. Mas muitas ilegalidades. Eu destacaria essa questão do aparelhamento da Cemig como já mencionei. Da ausência de concorrência em várias contratações. Dessas muitas contratações, eu destaco a mais escandalosa: o contrato firmado com a IBM no valor de R$ 1 bilhão e 200 milhões.
O contrato mais longo da história da Cemig, de dez anos para, entre outras coisas, que seja realizada a prestação de serviços do callcenter, o famoso serviço de atendimento telefônico. Repito, sem concorrência. Algo que eles chamaram de Oportunidade de Negócios, que não está em nenhum momento claro na Lei de Licitação das Estatais.
Também identificamos casos de empresas que venceram a concorrência pública para prestar serviços de rede de transmissão aérea ligadas a membros do Partido Novo. Identificamos também que havia um projeto para realizada vender a companhia com a retirada desses servidores de carreira, substituindo esses servidores por pessoas do mercado.
Descobrimos também, durante a CPI, que a Cemig foi desidratada com a venda dos seus ativos como a Light e a Renova. Foi quando o discurso do Governador Romeu Zema e o discurso do Partido Novo caiu por terra pois ouvíamos por parte deles que a Cemig deveria investir em Minas Gerais.
Alguma descoberta em relação às usinas hidrelétricas?
Professor Cleiton – Sim, descobrimos uma tentativa da venda de usinas hidrelétricas controladas pela Cemig dentro do Estado de Minas Gerais. Por fim, identificamos que a Cemig, a nossa maior Companhia, estava sendo utilizada para fazer caixa para o Partido Novo na campanha eleitoral desse ano.
Os desdobramentos da CPI da Cemig têm conseguido chegar à população?
Professor Cleiton – Muito pouco. Nós temos uma imprensa praticamente blindada e a gente sabe como funciona. Por isso esse canal de comunicação é importante, para trazer a luz à população mineira sobre o que aconteceu e quais serão os desdobramentos daqui pra frente dessa que é uma das investigações mais importantes da história de Minas Gerais.
Quais as explicações do governo estadual para os fatos identificados pela CPI?
Professor Cleiton – Essa é a nossa grande decepção. Nós temos um governador que durante essa gestão prevaricou e continua prevaricando. Manter a atual diretoria após tudo o que foi esclarecido é um atentado contra a população de Minas Gerais.
E qual é a explicação do governo estadual?
Professor Cleiton – Que a CPI é política. Importante dizer que chama a atenção o fato de o relatório da CPI ter sido aprovado por unanimidade, inclusive, pelos próprios Deputados da base de governo que até agora também estão perplexos com inoperância do Governador diante de tudo o que aconteceu.
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Qual a sua avaliação sobre seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais?
Professor Cleiton – A autoavaliação é muito complicada. Mas eu acredito que consegui o respeito e que consegui ter uma atuação dentro da Assembléia altamente destacada pelos próprios colegas. Um trabalho reconhecido por boa parte dos mineiros e por aqueles setores mais pontuais em que a gente atua.
Como na questão da assistência social, da saúde, da educação, da defesa pelos Lagos de Furnas e Peixoto, pelo nosso turismo e gastronomia que são bandeiras do nosso mandato diretamente ligadas ao que é fundamental e básico para a nossa população, a geração de emprego que nós precisamos fazer com urgência nesse país.
Em Poços de Caldas foi anunciada uma caminhada sua ao lado da pré-candidata a Deputada Federal Yula Merola (Avante) com apoio do ex-prefeito Eloísio do Carmo Lourenço (PSB). Qual a sua expectativa para essa parceria? Professor Cleiton – A melhor expectativa possível. Costumo dizer que pessoas que pregam o bem comum, que defendem o bem comum e pessoas de bem precisam se cercar de boas pessoas. É o caso da professora Yula, uma liderança reconhecida em Poços de Caldas e que tem ao seu lado um grupo de pessoas muito sérias. Um nome que nós, inclusive, queremos também fortalecer em boa parte do Sul de Minas.
Acredito que essa aliança em Poços de Caldas trará uma série de benefícios políticos, sobretudo para as eleições de 2024 em cidade que precisa de uma renovação política. Creio que a professora Yula tem grandes possibilidades de ser a representante de Poços de Caldas em Brasília.
Há muito tempo a cidade não conta com um representante e muito menos uma representatividade à altura. Sobretudo de uma mulher. Uma mulher que tem sensibilidade, carisma e que quer fazer a diferença na política. Por tudo isso será muito bom caminhar ao lado da professora Yula Merola.
Como o senhor vê a aproximação do PSB com o PT? É uma aproximação natural?
Professor Cleiton – Acredito que é uma aproximação natural. São partidos que no passado tiveram uma certa distância, sobretudo em 2014 quando o PSB lançou Eduardo Campos para a presidência. Mas nesse momento o PSB e tantos outros partidos estão pensando não só nas eleições, mas também na preservação da democracia.
Essa semana nos deparamos coma noticia de que a Câmara dos Deputados discute a possibilidade de se criar no Brasil o semi-presidencialismo, algo que ninguém sabe o que é. Portanto, mais do que os problemas que enfrentamos, nós também temos uma série de ataques à democracia.
O PSB é um partido que sempre zelou e primou pela defesa dos valores democráticos. Entendo que juntamente com o PT e outros partidos, nós poderemos fazer frente contra o que é danoso à democracia brasileira.
Qual a sua avaliação do governo Romeu Zema?
Professor Cleiton – Minha avaliação é que o governo do Novo não tem nada de novo. Essa semana, inclusive, nos deparamos com o escândalo de um orçamento secreto no governo Romeu Zema com a destinação de aproximadamente R$ 300 milhões, que não estavam no orçamento, para deputados da sua base.
É bom a população saber que esse valor representa o dobro do escândalo do mensalão. E é bom lembrar que não estamos falando de um pais, mas de um estado. Repito, em um estado, o dobro de valor de um dos maiores escândalos da história política desse país.
E do governo Jair Bolsonaro?
Professor Cleiton – Do governo Jair Bolsonaro a minha avaliação é de que se trata de um governo que tem muito mais erros do que acertos. Sobretudo nesse período de condução da pandemia. Tivemos que enfrentar o negacionismo, a propaganda contraria às vacinas, uma série de erros na condução das questões econômicas, o isolamento internacional do Brasil, algo que tem custado muito caro, sobretudo no que diz respeito ao desemprego que tem aumentado e acima de tudo aos dois dígitos da inflação que já muito tempo não víamos no país.