A volta do lixo nuclear

Dedico este artigo ao falecido proprietário do Jornal da Cidade, Ilair Henrique de Freitas, e ao ex-editor Cassinho da Rocha.

Estávamos no início da década do ano de 1990. O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 10 de julho, na página 5 trazia um artigo do jornalista Ricardo Kotscho, cujo título era “Day After em Poços de Caldas”, abordando a situação da usina de urânio localizada do Planalto.

Historicamente o Planalto de Poços de Caldas conviveu sempre com a ideia da exploração de minério e até mesmo com a instalação de usina nuclear, desde 1958. Lembro-me disso, lendo a antiga revista “O Cruzeiro” quando fiz um trabalho – como dever escolar – sobre a cidade no ano de 1959.

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É fato que a população do planalto sempre conviveu com o movimento da extração de minério na região há muitos anos e, também, que um dia essa fonte seria esgotada, uma vez que minério só “brota” uma vez.

O que as pessoas conscientes sempre temeram é que se pudesse transformar a região em lixeira de rejeitos nucleares de toda espécie. O que as pessoas do Planalto sempre temeram é que se quisesse tapar a cratera deixada com Torta II, lixo radiativo hospitalar, terras contaminadas como o Césio em Goiânia, o lixo de Angra, etc e tal.

O que a cidade de Poços de Caldas, Caldas, Andradas e o Sul de Minas, enfim, sempre temeram é que caminhões – tal como carros funerários – subissem a montanha em cortejo fúnebre para transformar a região num cemitério de horrores.

Nunca acreditamos que as nossas autoridades constituídas, eleitas com o voto do povo, quisesse ir contra esse mesmo povo; não acreditamos que os representantes do povo e os prováveis futuros candidatos às próximas eleições não estejam cientes desse funesta intensão totalmente prejudicial ao Planalto de Poços de Caldas e seus cidadãos.

Não acreditamos que o comércio local, através de suas associações, queira ver seu movimento reduzido pela diminuição do fluxo turístico. Não acreditamos que o povo queira ver Poços e região como “a lixeira atômica do Brasil”.

Todos nós acompanhamos as notícias sobre os desastres de Chernobyl, na Ucrânia, e de Goiânia, em Goiás cujos acidentes reverberam até os dias de hoje. Um poema publicado no livro de 1996: A radioatividade e O Lixo Nuclear, da professora e pesquisadora Maria Elisa Mar-condes Helene, da Editora Scipione, em que faço uma das apresentações:

Hoje, o planalto de Poços de Caldas não serve mais. Minério acabou
Só mancha, “nunclemais”.
Mas estão “tapando os buracos”, trazendo para cá “Torta II”.
Aquele lixo do vizinho que você não gostaria de ver jogado no quintal da sua casa.
Sentimentos mil: do povo, do poeta e do Brasil.

* Hugo Pontes é poeta, escritor e jornalista. E-mail: hugopontes@pocos-net.com.br