Entrevista: Yula Merola

Candidata a prefeita em 2020 em Poços, Yula anunciou que será pré-candidata a deputada federal em 2022

Prestes a completar 50 anos, Yula Merola já tornou pública sua pré-candidatura a deputada dederal em 2022.

Considerada a grande surpresa das eleições de Poços de Caldas no ano passado, ao conquistar 6.205 votos e ficar atrás apenas do atual prefeito e de dois ex-prefeitos, ela topou ser a primeira entrevistada da revista digital One Weekend, que o Jornal da Cidade reproduz abaixo:

Entrar na política foi um caminho natural?
Yula – Nas eleições municipais de 2020, eu me candidatei ao cargo de Prefeita da Cidade de Poços de Caldas pelo Partido Cidadania. Alcancei a marca de 6.205, mas não consegui me eleger. A minha trajetória de ativismo político, começou dentro da faculdade, quando eu tinha meus 23 anos e fundei com alguns amigos a Empresa Junior.

Depois me casei e tive filhos ficando este período dedicada a família e aos estudos. Em 1999, vim morar em Poços de Caldas e busquei formas de poder ajudar a cidade que estava morando e criando meus filhos e comecei com atividades de voluntariado na cidade. Em 2002, me tornei servidora pública, pois acredito que o 1º setor é o local mais transformador por gerar mais impacto.

Dentre de todas as atividades que realizei na área pública, a mais marcante e que determinou o meu propósito profissional foi o projeto com os catadores de materiais reciclados. Em paralelo, percebi a importância da educação como instigador dos problemas sociais, me tornei professora universitária.

De 2018 a 2019 fui presidente do CRFMG, com intuito de melhorar a qualidade dos profissionais como eu, farmacêuticos. A atuação dentro desta Autarquia Federal como Agente Política foi um divisor de águas, para eu ultrapassar as barreiras de gêneros e sociais vivenciar outras formas de fazer política.

Foi neste espaço que comecei a enxergar mais a política institucional no meu dia a dia. E comecei a ser mais atuante na minha cidade e mais presente. Respondendo a sua pergunta, foi sim um processo natural. De uma vontade de poder fazer as mudanças necessárias para diminuir as desigualdades e tornar uma cidade melhor para todos.

continua depois da publicidade

Passadas as eleições, como a senhora classifica a sua primeira experiência eleitoral?
Yula – Saio desta eleição vitoriosa, por todos os percalços que passei nos 45 dias de campanha e ter tido a oportunidade de conhecer ainda mais a cidade que escolhi para viver e criar os meus filhos.

Nestes 45 dias de campanha todos falavam que eu era uma mulher “corajosa”! Aí penso que toda pessoa que se coloca à disposição para exercer uma função de grande relevância tem que sim que ter coragem, mas aí esmiuçava a conversa até entender o porquê da necessária coragem.

Logo vem o fato de ser mulher. Outra máxima comum no nosso meio político é “mulher é boa pra vice ou para vereadora”. Tive uma votação muito expressiva e fiquei em quarto lugar atrás de dois ex-prefeitos e do atual. Para alguém que nunca tinha concorrido a pleito eleitoral e concorrendo com pessoas com experiência?

Então tenho que continuar a fazer por estas pessoas e por todas as pessoas que não tem voz nesta cidade e várias mulheres que devem ter vontade de participar do processo decisório da cidade, mas enfrentam resistência dentro da própria casa.

A coligação com o PSL foi buscada por diversos outros candidatos. Hoje, sua avaliação é de que contar com o apoio desse partido foi positivo ou negativo no contexto geral?
Yula – Sim. O PSL é um partido que todos queriam devido ao tempo de TV e os recursos eleitorais. O PSL me trouxe visibilidade que não teria com os 52 segundos do Cidadania. Então olhando por este víeis sim foi positivo.

O nome de Azer Zenun para vice foi uma escolha ou imposição do PSL?
Yula – Na verdade, foi uma escolha dos Partidos PSL e Cidadania em conjunto, pela historia de vida e de profissional do Azer na cidade e por tudo que ele fez na área de saúde para Poços de Caldas.

Como seus colegas funcionários públicos veem a senhora como política?
Yula – Então. No interior é bem mais complicada esta relação devido à proximidade. Muitos e aqui vai o meu agradecimento apoiaram e ate fizeram campanha para mim. Pessoas que trabalharam comigo que sabiam da minha experiência na área e como eu vinha me preparando para esta candidatura.

Que não estava sendo uma aventureira e sim por trabalhar há mais de 20 anos no setor publico conhecer bem as suas deficiências e saber como atuar. Outros me atacaram por medo ou por desconhecer ou por ser mulher não sei. Outros até hoje não me cumprimentam por ter sido adversária do atual prefeito nas eleições e tem medo das retaliações. E sabemos que isto acontece mesmo. Ainda falta maturidade política a muitos agentes políticos.

E ainda temos os Agentes Políticos, os famosos cargos comissionados, que fazem boicote de muitas pautas que solicito. Qual é o meu sentimento para com isto?

Não é indignação, mas não acho adjetivo para pessoas que estão hoje ocupando cargo de lideranças que estão lá devido ao espírito público que o levou ate lá e hoje fazem ações em beneficio próprio ou mesmo não deixam as pessoas que querem auxiliar na implantação de politicas publicas na cidade pois acharem que vão dar “ holofotes”.

São pessoas que não sabem mesmo o que é ser um Agente Político em prol da sociedade. E quem sofre com isto somos todos nós, com esta falta de maturidade politica.

continua depois da publicidade

Mulher vota em mulher?
Yula – Sim. Mas você deve estar perguntando. E porque não votaram em você? Por ser desconhecida, morar numa cidade conservadora e de direita e por ter tido pautas claras em relação a debate de gênero.

Para que as mulheres votem em outras mulheres, a candidata tem que estar comprometida com temas que vão além da violência contra mulher, não pode defender o machismo, precisa combatê-lo nas mais diversas pautas, e aí acho que o PSL interferiu bastante na minha candidatura.

Recentemente a senhora anunciou sua pré–candidatura a deputada federal. Quais as
expectativas para 2022?
Yula – Acredito que será uma campanha de muitos candidatos e bem disputada e com uma população que estará convicta da importância do seu voto.

Será uma eleição de renovação com formação. E que pode ser que seja esta via de renovação, maturidade e formação. E hoje estou bem mais madura em relação a campanha eleitoral.

E quais foram as lições que 2020 deixou para o cenário político? 7
Yula – A eleição municipal trouxe outro debate para além dos buracos nas ruas, os hospitais, as leis municipais e a discussão bairro a bairro. Quais serão as alianças para daqui a dois anos. E lendo o livro “Amanhã será Maior”, da filósofa Rosana Pinheiro Machado, que recomendo a todos, retrata bem este momento que estamos passando e a crise da esquerda: “Se quisermos sair do obscurantismo politico no qual estamos enfiados , não custa colocar o pé no barro e sair da confortável posição de acusação e julgamento”.

E foi isto que as urnas também deram o recado. Que precisamos retornar os discursos que dialoguem com a profunda e latente frustação popular. E isto só ocorrerá com união e articulação, porque senão os mesmos irão continuar no poder.

Estamos observando uma mudança e somente daqui a dois anos que ocorrerá de fato a eleição em que pode haver uma retomada, uma reconquista de espaço, do pensamento progressista, mas para isto acontecer as lideranças dos diferentes partidos devem sentar e priorizar a construção de uma frente.

continua depois da publicidade

Recentemente a senhora lançou o “Papo Reto” um canal do YouTube onde aborda diversos temas da cidade e da região. Qual o objetivo do canal?
Yula – Um projeto que estava na gaveta há muito tempo. Surgiu quando observei que quando tínhamos noticiais relevantes tanto de âmbito nacional quanto municipal as pessoas vinham atrás de mim para saber se era fake news ou mesmo ter uma opinião neutra dos fatos.

E também observava que muitas das minhas respostas em grupos de WhatsApp eram replicadas. Então pensei porque não trazer as “fofocas de bastidores” para um debate mais amplo e mais claro para a sociedade?

Mostrar os dois lados da história. Uma análise da conjuntura e deixar cada um avaliar por si só. Mas também uma grande responsabilidade por observar que muitas pessoas me veem como formadora de opinião ou uma pessoa de credibilidade então faço este projeto com muito carinho.

Qual a sua avaliação dos governos Sergio Azevedo (PSDB), Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (sem partido) Em uma palavra?
Yula – Péssima. a) Sergio: por ter sido uma reeleição não deveria estar ainda aprendendo a governar. Ele não apresentou nos 100 primeiros dias de governo as medidas estratégicas.

Não apresentou por achar que uma reeleição não precisaria? Então! Todos precisam apresentar, isto se chama transparência. Neste requisito também a Administração está péssima de

acordo com os dados da CGU. Nestes 100 dias de gestão quem é da área de Administração Pública ou conhece Gestão Pública sabe que esta é a época de organizar a gestão e comunicar metas. Seria o “cartão de visitas”.

Nesse primeiro momento, as metas teriam que ser comunicadas para a população e também importante expor as dificuldades para atingir cada um dos objetivos. Um candidato muitas vezes ganha a eleição dizendo o que o eleitor quer ouvir, o que muitas vezes não condiz com a realidade da cidade. Se quer a população do seu lado, fale a verdade.

b) Zema: De acordo com as pesquisas realizadas pelos Institutos, em 2020, o governador estava com 70% de aprovação. Durante a campanha, Zema prometeu que seu secretariado seria 100% técnico e que não haveria presença de parlamentares eleitos. Não cumpriu.

A velha política tem sido acomodada no governo do Novo. Prometeu que seus secretários não receberiam salário, mas também não cumpriu. Prometeu também cortar 80% dos cargos comissionados no Estado, mas chegou a pedir a criação de novas vagas na reforma administrativa que aprovou no Legislativo.

Foi homenageado pelo governo de Minas Gerais com uma medalha que ele havia prometido extinguir durante a campanha para reduzir custos. Já observou que tenho as minhas criticas ao governo dele, na verdade do partido Novo, que tem uma política neoliberal.

O Novo foi fundado por ricaços do alto escalão do mercado financeiro que concentraram fortunas graças às políticas econômicas mantidas por todos os governos.

c) Bolsonaro. O que dizer desta pessoa? Acho que é o pior presidente. Faz ameaças à democracia, à soberania nacional, ao meio ambiente e aos direitos dos trabalhadores estão entre alguns pontos. Corta verba das Universidades e contra a ciência. Ataca à liberdade de imprensa, ataque aos índios. E fora a situação da pandemia que o Brasil esta passando devido ao negacionismo deste governo.