Por falar em saudade, onde anda você?
Gilda. Esse nome deveria ser sinônimo da palavra “viver”, pois ela era a própria personificação da vida.
Convivi pouco tempo com a dona Gilda, ou, como eu costumava chamá-la Vó Gilda e ela carinhosamente um dia disse: “ganhei um neto poeta, é mole!?”.
Vó Gilda era a pessoa mais acolhedora que conheci, com um sorriso que dissipava qualquer tristeza ao seu redor, com o perdão do clichê. Além disso, Gilda era uma pessoa a frente do seu tempo. Convivia e respeitava as diversidades como ninguém.
Infelizmente chegou para ela aquele dia que é o fim de todo ser vivente. Como nos diz Ariano Suassuna: Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
Entretanto, Guimarães Rosa nos diz que as pessoas não morrem, elas ficam encantadas. Sim, foi isso, a vó Gilda ficou encantada, ou, como escreveu Quintana a respeito da morte de Catulo da Paixão Cearense: Catulo não morreu, luarizou-se.
E ela luarizou-se, a lua dos seresteiros, que resistem e entoam canções para ela; canções essas que ela cantava com toda beleza e elegância de uma rainha do rádio, como Ângela Maria, com a qual cantei numa noite de boemia A Volta do Boêmio de Nelson Gonçalves.
Vó Gilda deixa um vazio que tentaremos aos poucos amenizar com doces lembranças e deixo essa última homenagem, esse trecho da música que sempre dedicava para ela no meu programa de rádio, de Vinicius de Moraes:
Pelas mágicas esferas que se perdem pelo céu
Em demanda de outras eras, velhas primaveras que o tempo esqueceu
Pelo espaço que nos leva, pela imensa treva, para as mãos de Deus
Gilda, Gilda, Gilda…
A bênção, vó Gilda!
* Wellington Rafael é poeta, escritor e graduado em História