Sonhe com disciplina

Augusto Cury escreve sobre o impacto dos sonhos na vida das pessoas e como elas lidam com isto

O psiquiatra, psicanalista, escritor e palestrante Augusto Cury escreve sobre o impacto dos sonhos na vida das pessoas e como elas lidam com isto.

Os sonhos são como o vento, você os sente, mas não sabe de onde eles vieram e nem para onde vão. Eles inspiram o poeta, animam o escritor, arrebatam o estudante, abrem a inteligência do cientista, dão ousadia ao líder. Eles nascem como flores nos terrenos da inteligência e crescem nos vales secretos da mente humana, um lugar que poucos exploram e compreendem. Muitas pessoas ao longo da vida confundem sonhos com desejos.

Desejos são intenções frágeis; sonhos são projetos elaborados com critério e responsabilidade. Desejos como o de ter bons amigos, de ser um bom aluno, de superar nossa ansiedade, de ser um excelente profissional não têm força para suportar o calor dos problemas que batem em nossas portas. Sonhos, ao contrário, são projetos de vida, ganham mais força quando sofremos derrotas ou atravessamos os vales das dificuldades. Sonhos precisam de disciplina, e disciplina precisa de foco, estratégia e escolhas, que, por sua vez, implicam perdas. Sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas, e disciplina sem sonhos produz pessoas autômatas, que só sabem obedecer a ordens.

Cada ser humano tem habilidades incríveis, mas poucos as desenvolvem, lapidam, treinam. Uns são “torradores” de dinheiro, outros de potencial intelectual. Muitos nasceram em berço pobre, viveram privações, não tiveram apoio de nada e de ninguém, mas usaram suas habilidades mentais para criar as próprias oportunidades. Você tem usado as suas? As conquistas dependem de 50% de inspiração, criatividade e sonhos, e 50% de disciplina, trabalho árduo e determinação. São duas pernas que devem caminhar juntas. Uma depende da outra, caso contrário, nossos projetos tornam-se miragens, nossas metas não se concretizam. Temos que parar de reclamar de tudo, de culpar os outros por nossos erros.

Temos que saber que ninguém poderá fazer as escolhas por nós. Ser disciplinados, fazer exercícios intelectuais continuamente para deixar de sermos servos e nos transformarmos em autores da nossa história. Nada é tão belo e relaxante quanto alcançar essa meta. Devemos nos fechar menos e falar mais de nós mesmos e de nossos sonhos, sem medo de sermos tachados de loucos, insanos ou débeis. Nem sempre os sonhos são definidos e bem organizados no teatro da mente. Às vezes nascem como pequenos traçados, simples esboços, ideias vagas que vão se desenhando e tomando forma ao longo da vida. Todas as grandes mudanças na humanidade no campo social, político, emocional, científico, tecnológico e espiritual surgiram por causa dos grandes sonhos. Claro, é impossível escapar da rotina.

Em muitos momentos ela é um calmante necessário, além de nos ensinar a nos manter organizados com o nosso dia a dia no trabalho. Mas esses sonhadores passaram pelo menos 10% do seu tempo criando, inventando, descobrindo. Realizar os sonhos com disciplina implica riscos, riscos implicam escolhas, escolhas implicam erros. Todos nós precisamos de muitos sonhos para atingir o nível de um profissional que procura a excelência, amplia os horizontes da inteligência, fica atento às pequenas mudanças, tem coragem para corrigir rotas, capacidade para prevenir erros, ousadia para fazer das suas falhas e dos seus desafios um canteiro de oportunidades. Sem sonhos com disciplina, os ricos se deprimem, os famosos se entediam, os intelectuais se tornam estéreis, os livres se tornam escravos, os fortes se tornam tímidos. A coragem se dissipa, a inventividade se esgota, o sorriso vira um disfarce, a emoção envelhece.

Sem sonhos e disciplina, a vida é como uma manhã sem orvalho, seca e árida. Eles são os melhores remédios para curar frustrações. Se sólidos, eles podem ter mais eficácia do que anos de psicoterapia. Eles reeditam o filme do inconsciente e ampliam os horizontes do desanimado, fazendo renascer a motivação para recomeçar tudo de novo. Nós só realizamos nossos sonhos com disciplina para nossa carreira profissional se superamos as ideias negativas, se vencemos a humilhação e se nos livramos dos tentáculos da timidez e da baixa autoestima. Libertemo-nos para sonhar novos sonhos! Libertemos nossos antigos sonhos presos na profundidade de nossa história!

* Augusto Cury é psiquiatra, psicanalista, escritor e palestrante