Pesquisa apoiada pela Fapemig vira filme que será traduzido em nove idiomas
Após seis anos de estudo e muito trabalho, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), lançaram o documentário “Um Canibal nos Trópicos”. O vídeo, produzido pela Menipo Filmes, mostra a vida e obra de Machado de Assis e de como o neto de escravos, negro e filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira torna-se o maior romancista brasileiro e presidente da Academia Brasileira de Letras.
Durante o lançamento, o diretor do filme, Edson Martins, falou sobre o gênero, processo de produção e bastidores. Ele contou os próximos passos do projeto, que incluem uma turnê nacional, com exibições agendadas em cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e do Amapá, além de uma turnê internacional, com apresentações em Portugal, Itália, Grécia e Inglaterra.
O documentário será legendado em português, libras, espanhol, francês, inglês, italiano, alemão, chinês e japonês. “Esta será uma oportunidade única para que as outras nações conheçam o nosso maior escritor que canibalizou Shakespeare, Dante, Cervantes, Camões e Homero, bem como para que Minas Gerais ganhe projeção internacional”, ressaltou.
Depois da turnê, Martins vai inscrever o documentário em festivais de cinema do Brasil e internacionais e, posteriormente, vai disponibilizar o trabalho no YouTube e no Vimeo, para que a população tenha acesso gratuitamente e se aproprie deste conhecimento gerado pela pesquisa e descubra as curiosidades deste escritor ímpar da literatura brasileira. “Ímpar porque não se limitou a nenhuma escola literária. Machado se filia à tradição da sátira menipeia, própria de espíritos céticos e desabusados. Seu estilo é único e inclassificável e sua técnica narrativa é fruto de um amadurecimento intelectual constante e progressivo de um leitor sempre insatisfeito, de uma mente que quer sempre aprender alguma coisa nova”, pontua.
“Machadomania”
Para o diretor, o documentário é a uma oportunidade para que os espectadores conheçam nuances da “machadomania”. Para ele, Machado de Assis consegue traduzir os problemas estruturantes da sociedade brasileira em forma literária e é por isto que nos seus romances não há um herói.
“Ele é uma espécie de gênio latino-americano que tem influenciado uma geração de novos escritores. O escritor percebeu que no Brasil não há heróis e isto é visível em suas obras, de uma forma bem irônica. Ele vê o mundo da perspectiva da decadência e utiliza da ironia para expor as contradições sociais que o país enfrenta. Estas e outras habilidades inigualáveis de Machado poderão ser vistas no documentário”, finalizou.