Projeto propõe criar primeiro circuito arqueoturístico do estado

Arqueólogos e técnicos socioambientais ligados à Prefeitura de Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), estiveram no Parque Estadual Cerca Grande, localizado em Matozinhos, também na RMBH, para conhecer o sítio arqueológico no interior da unidade de conservação. A visita técnica foi a primeira de uma série que pretende desenvolver um diagnóstico do potencial arqueoturístico da região e, na sequência, inaugurar o primeiro circuito de turismo arqueológico do estado. 

Crédito: Divulgação/IEF

Três dos principais sítios arqueológicos que deverão compor o circuito estão inseridos em unidades de conservação estaduais. São elas os parques estaduais Cerca Grande e Sumidouro e o Monumento Natural Estadual Lapa Vermelha.

Juntas, as unidades integram a Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa, palco de importantes estudos e descobertas arqueológicas, como a famosa Luzia – o esqueleto humano mais antigo encontrado no continente americano – e as primeiras pesquisas ligadas às Ciências Naturais, realizadas pelo dinamarquês Peter Lund, considerado o "pai" da Arqueologia e da Paleontologia brasileiras.

A arqueóloga Luíza de Resende Madeira explica que a região é reconhecida mundialmente por sua riqueza arqueológica, recebendo todos os anos centenas de pesquisadores e interessados pelo assunto.“Temos aqui um enorme potencial turístico ainda pouco explorado e pretendemos, a partir da criação do circuito arqueoturístico, compor um roteiro que permitirá ao visitante conhecer os principais tesouros da região”, destaca.

De acordo com dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Minas Gerais conta com 2,5 mil sítios arqueológicos em seu território. Apenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, são cerca de 200 sítios arqueológicos que apresentam vestígios pré-históricos. “No Cerca Grande, por exemplo, temos pelo menos 500 pinturas rupestres identificadas e inúmeros abrigos com potencial para pesquisas paleontológica, espeleológica e arqueológica. O circuito arqueoturístico poderá contribuir enormemente para a divulgação e preservação de toda essa riqueza natural”, lembra o arqueólogo do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Leandro Vieira da Silva.

Para o cientista socioambiental, Igor Prado, do Centro de Arqueologia Annete Laming Emperaire (Caale), entidade vinculada à Prefeitura de Lagoa Santa, o turismo de experiência é uma atividade que vem ganhando cada vez mais adeptos em todo o mundo, mas deve sempre ser feito de forma consciente. “Cada um dos sítios arqueológicos que deverão integrar o projeto conta com particularidades e restrições de acesso que deverão ser respeitadas para manter a preservação dos locais”, ressalta.

Cerca Grande

Localizado no distrito de Mocambeiro, município de Matozinhos, o Parque Estadual Cerca Grande apresenta o único complexo de sítios arqueológicos tombados pelo Iphan em Minas Gerais. A unidade de conservação está inserida em uma das mais expressivas regiões cársticas do Brasil – tipo de formação geológica caracterizada pela dissolução química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de formações, tais como cavernas, dolinas, vales cegos, entre outras.

Esta região é considerada o berço da Espeleologia, Arqueologia e Paleontologia brasileiras. Em 1835, Peter Lund, naturalista dinamarquês, fez importantes achados na região que, juntamente com os desenhos do pintor norueguês Peter Andreas Brandt, revelaram para o mundo a paisagem cárstica mineira, seus fósseis de animais extintos e registros de antigas populações.

Local de grande beleza, o parque guarda a memória escrita nas pedras por meio de registros rupestres: pinturas que testemunham a história de nossos antepassados nas cores branca, preta e, principalmente, amarela e vermelha. Estão presentes figuras antropomorfas, geométricas e a maioria zoomórfica.

O Parque Estadual Cerca Grande ainda não recebe visitação do público em geral, aberto apenas para pesquisa e objetivos educacionais. Estas demandas devem ser agendadas previamente junto à administração do parque pelo telefone (31) 3712-8118 ou pelo e-mail parque.cercagrande@meioambiente.mg.gov.br.