Resistência por meio da arte: conheça a história de Faustine Vilas Boas
Tine lançou neste Carnaval um bloco da diversidade
Faustine Vilas Boas é meu nome social… É meu nome. Assim começa a entrevista. Crescida no meio carnavalesco, encantada com este universo desde pequena, mas ainda sem poder se expressar.
Carregava consigo a força de Mateus Alberto Gomes seu nome de batismo. “Comecei na arte aos quatro anos participando do Banho à Fantasia. Depois participei da banda do Colégio Municipal com oito anos, permaneci até os 17. Mestre Bucha que é grande pai, é uma pessoa que me formou nesse tempo, com a Congada, com a parte da Escola de Samba… Tudo aquilo me chamava a atenção”, conta.
VIDA ARTÍSTICA
A vida artística de Faustine Vilas Boas começava a borbulhar. Aos 16 anos, teve a primeira banda, Nisca, na qual tocava trompete. O canto ainda não tinha sua voz, mas já era expressado em letras. Letras que logo seriam lidas pelo diretor teatral Valber Rodrigues, de um encontro entre os dois artistas, nasceu a ideia de levar todos os escritos para o palco, o que resultou na peça Deslimites na beira do caos.
“A gente conta da parte que eu começo a transição por ser uma mulher trans. O caos de estar para rua e esse limite que te boicota tanto, então deslimitar ali, faz toda diferença. Mostramos esse drama que termina com música, um cortejo até a praça”, afirma. Desse final, nascia a vontade de colocar um bloco nas ruas de Poços no Carnaval.
É CARNAVAL
Cinco de março de 2019, milhares de pessoas participam do Bloco da Tine, que com o apoio do bloco das fridas que desfila há quatro anos, trouxe para o Carnaval além de brilho, as bandeiras contra todo tipo de preconceito. Bloco das fridas é formado por integrantes do coletivo Mulheres pela democracia.
“Nesse ano, nós fizemos essa parceria com a Tine, viemos com os estandartes de protesto, a Tine com o samba-enredo e as meninas do coletivo e parceiras fizeram uma paródia da música da Daniela Mercury. Ficou lindo, deu visibilidade, cumpriu o propósito nós enquanto coletivo Mulheres pela democracia ficou feliz com o resultado. É sonhar e lutar por um mundo mais justo e igualitário”, explica Édna Leite Ramos Xavante Casaldáliga, representante do coletivo.
O bloco da diversidade, como foi chamado, foi gratuito, participava quem quisesse chegar e rendeu frutos e experiência que é sentida por Faustine. Relatos fortes de pessoas que lutaram para estar no bloco, num ato de resistência. “Foi um cortejo com muito brilho… virou um ato político sim, essa energia fantástica e a resistência”, comemora.
Os organizadores comentam que não houve registro de violência e abuso no bloco. Faustine Vilas Boas conta que a ideia do cortejo no fim da peça e do bloco, foi de marcar sua volta para as ruas de Poços de Caldas, cidade onde nasce e vive, mas que ainda se sente ameaçada por situações que já ocorreram em sua vida por viver pela noite.
“Tudo isso é passar do limite, é mostrar que é nessa cidade que eu vivi até agora e que não arredarei o pé daqui, não serei exilada”, reforça.
D’ONS MARIA
Faustine faz dupla com Guilherme Reche, juntos formam o D’ons Maria há quatro anos. O nome é uma homenagem aos dons da mulher e também ao jeito mineiro de abreviar as palavras, por exemplo: o dona Maria, vira Don Maria. Esta turma tem crescido nos últimos anos, para 2019, a dupla vira quinteto com a integração de três músicos. Se preparam para lançar um disco com mú-sicas autorais. Enquanto isso, as apresentações seguem.
Com repertório visando empoderar a mulher, D’ons Maria se apresentou neste sábado, 23, às 17h, no Simbora, em ação que fez parte do evento Empodere-se Mulher, organizado pelo Studio Rua durante março. Tine reforça às pessoas que se sentem sozinhas em suas lutas e aceitação de que esta é uma realidade que está sendo mudada.
A artista ainda comenta sobre um grupo de trans e travestis que tem ajudado muitas pessoas, inclusive a si mesma a perceber que não está sozinha, o Transparecer.
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