Ordem do Dia 08/11/24

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista Político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.

Um dos analistas políticos, convidados pelo G1 para explicar a vitória de Trump, na manhã de quarta-feira, admitiu ter “dificuldades sociológicas” para explicar esse triunfo.

Modestamente, recomendo-lhe a leitura da obra dos cientistas políticos Levitsky e Ziblatt, “Como as democracias morrem”.

Após ler a obra, desses professores de Harvard, não temos dificuldades em compreender a vitória de Trump. Parece, de certa forma, “natural”, considerando o perfil do eleitorado norte-americano.

E vemos o óbvio: Trump, certamente um bufão mentiroso e de maus hábitos, não é a causa, mas a consequência de uma realidade subjacente à população norte-americana.

O insuperável Paulo Francis, nos textos de sua coluna de página inteira, “Diário da Corte”, tratou muitas vezes desse assunto.

Considerava essa população, da “América profunda”, um “mar de jecas”. Habitavam o grande território central dos EUA, entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Continuam por lá. Mas na época de Francis eram folclóricos. Hoje, são ressentidos.

Nos anos 1980, havia colunas de página inteira na Folha de S. Paulo. E leitores que se deliciavam com o robusto e sofisticado texto de Francis. Sobretudo, bem-humorado.

Hoje não há colunas desse tipo. Nem muitos leitores que as apreciem. Isso explica, em alguma medida, a vitória do bufão de Manhattan. E porque tantos o admiram no Brasil.

Aliás, vinham de Manhattan as colunas semanais de Francis. Onde também era realizado o programa “Manhattan conexion”. Coisas que não existem mais. Uma sofisticação mal vista atualmente.

O “mar de jecas”, pela segunda vez, triunfou. Trump seria apenas a expressão de seu ressentimento. Segundo a citada obra, essa indisposição conservadora, racista e ignorante, teria se iniciado nos anos 1960, durante a campanha dos direitos civis, nos EUA.

Que quebrou o “racismo estrutural” daquele país (lá, de fato, existia esse fenômeno). Agravou-se com a entrada das hostes evangélicas na política, nos anos 1970, trazendo a pauta de costumes para a política.

A questão do aborto à frente. A decadência econômica desse pessoal sub-letrado, o desemprego, embalados pela globalização, ampliou o ressentimento.

Os imigrantes foram responsabilizados por isso, latinos principalmente. O restante é história. E Trump seu resultado. Temos mais um maluco no poder. Armado até os dentes.

* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com