Ordem do Dia 13/03/24

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista Político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia. 

O Rio de Janeiro teria muitas faces. Até mesmo uma mitológica: a da “Esfinge”. Aquela figura sinistra que emboscava as pessoas, lançava-lhes uma charada, concluindo: “decifra-me ou devoro-te”.

A charada atual seria mais um dilema, ou um lamento: o que houve com o Rio? Essa grande cidade, no passado, teria sido uma referência mundial.

De turismo, artes, cultura, belezas naturais e estilo. Foi o principal centro do Brasil-Colônia, sede do Vice-Reinado, refúgio do Império português, nossa Corte Imperial e Capital da República.

Era palco de um desfile de personalidades do jet-set internacional, se propondo a um tipo de “dolce vita”. Carmem Miranda, a grande artista carioca (nascida em Portugal), mudou-se para os EUA e chegou a ser a mulher mais bem remunerada das Américas.

Sua biografia, escrita por Ruy Castro, seria também uma história do Rio, numa época de ouro. Frequento o Rio há décadas. Nos anos 1980, quando estudante, conheci a galera da música popular brasileira e frequentei o então famoso “Baixo Gávea”.

Numa certa madrugada, retornando a pé para casa, deparei-me com Tom Jobim, sozinho, fumando um charuto no Jardim de Alá. Calma e pacificamente. Uma cena inimaginável, nos dias atuais.

O espírito carioca, revelado nas obras sérias, do historiador e cientista político, mineiro da UFMG, José Murilo de Carvalho (também imortal da Academia Brasileira de Letras), seria um.

O Rio pândego, expresso nos textos e peças de Artur Azevedo e de Nelson Rodrigues, seria outro. Complementado pelas obras de Machado de Assis, de Aloísio Azevedo, pela coluna do Castelo (do Jornal do Brasil), pelo Pasquim, pelo Samba e pela Bossa Nova, entre outras referências. Especialmente as doces lembranças da Confeitaria Colombo.

Isso tudo nos daria, ainda, as inúmeras dimensões, da mesma cidade. Até mesmo suas favelas eram cantadas.

Todavia, presentemente, só ouvimos histórias de milicianos, traficantes, governadores presos e corrupção desenfreada. Parece que prevaleceu a Esfinge. E devorou os melhores sonhos da cidade maravilhosa.

* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG) e Direito Administrativo (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com