Segundas felizes

O jornalista Daniel Souza Luz escreve crônica sobre bandas britânicas independentes do começo da década de 1990.

Em 1990 meio que fui enganado pela segunda geração de bandas de Manchester e congêneres, à época do indie dance. Tinha 15 anos, não me culpo por isso. Mas não acho ruim aquela cena adorada pela imprensa, só superestimada. Lia a respeito e imaginava algo muito melhor. Naqueles dias, pouco antes do estouro do grunge de Seattle, era boa música que podia ser ouvida no rádio em qualquer dia da semana.

Os discos, com exceções, como o último álbum do Happy Mondays antes da derrocada, não são tão legais assim. The Only One I Know, do Charlatans, é literalmente a única música deles daquela época que conheço. Sackville, do Inspiral Carpets, para mim é a única que tem alguma conexão com o que se fazia em Manchester antes, ou seja, algo mais sombrio, próximo aos luminares surgidos imediatamente após a explosão do punk em 1977,o Joy Division e o The Fall, seguidos poucos depois pelo New Order (após o suicídio de Ian Curtis em 1980, dando fim ao Joy Divison) e o The Smiths.

A sonoridade pop e bastante inglesa surgiu com as bandas independentes de rock (indie rock) dos anos oitenta, depois emuladas e estereotipadas pelo famoso indie dos anos 2000, que não é nada independente; geralmente são músicos com contratos com grandes gravadoras, ao contrário do que rolava há trinta anos.

À época, os indies britânicos resolveram que estavam de saco cheio de guitarras e que dançar até o sol raiar era melhor. Foi justamente quando nasceram as raves, hoje também banalizadas.

Além dos grupos que mencionei antes, houve o Soup Dragons, esse sim o maior sucesso de todos no Brasil, com uma versão animada de um lado B ripongo dos Rolling Stones. E quase ninguém mais lembra. Nem do Stone Roses, a grande promessa da época, que ao menos era melhor do que o Guns.

Talvez dê pra escutar em algum programa de flashback a musiquinha do The Farm, cujo título sequer me recordo a banda mais frouxa de todas. Eu me lembro de tudo. Não dançava, mas viajava em alguns sons. E é isso aí, essa foi a psicodelia ensolarada da “minha época”, já obsoleta. Em 1991, quando veio o Nirvana, as cores lisérgicas de segunda mão esmaeceram.

* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com