Negros representam maioria dos empreendedores no Brasil

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Um recente estudo divulgado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), realizado com base em dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do terceiro trimestre de 2023, destacou que empreendedores negros correspondem a 52% dos donos de negócios no Brasil. Do total de 29,3 milhões de empreendedores, os que se autodeclaram pretos e pardos são uma parcela relevante de 15,2 milhões de pessoas.

Mesmo assim, o levantamento também destacou que esse grupo não necessariamente está faturando mais. Entre pretos e pardos, o faturamento da maioria dos entrevistados gira em torno de até 2 salários mínimos, sendo mais de 77% do total de empreendedores que compõem essa parcela. Quando se fala de escolaridade, os resultados também destacam as diferenças: 45,1% têm somente até o ensino fundamental e apenas 13,2% têm ensino superior (incompleto ou mais).

O publicitário e fundador da agência Groscove, Jonathas Groscove, relata que, em sua trajetória empreendedora, pôde observar o quanto as possibilidades de mercado são menores para pessoas pretas, destacando a importância de dados reais como o apresentado pela pesquisa do Sebrae. “O mercado não está preparado para pessoas pretas, para poder trazer quem trabalha arduamente, quem desenvolve tantas ideias e  versões de si mesmo para conseguir preencher as necessidades do negócio”, afirma.

Como pontuado pelo publicitário, a diversificação dos segmentos de negócio realmente varia entre o grupo. Um estudo mais específico, realizado em 2021 pela RD Station e parceiros,  identificou que o afroempreendedorismo está ligado principalmente aos setores de comércio, comunicação e indústria de cuidados. Além disso, a grande maioria são micro e pequenas empresas com apenas um funcionário que, geralmente, é o próprio empresário.

“Percebo que, geralmente, os empresários são mais reservados. Acredito que é um passo positivo um estudo amplo como esse, ter essas pautas colocadas na linha de frente para que as pessoas pretas que estejam tentando se encaixar no mercado, consigam se sentir mais pertencentes”, afirma Jonathas.

Representatividade impulsiona a confiança
Por mais que o número de empreendedores negros corresponda a maior parcela destacada pela pesquisa, um fator importante que permeia a presença preta no mercado de trabalho é também a representatividade. Uma publicação da plataforma Globo Gente, que pontua uma série de estudos e dados sobre o assunto, traz uma porcentagem que acentua a autoconfiança dessa população: cerca de 44% dos negros dizem se sentir inseguros em acreditar no seu potencial de trabalho.

Em consonância, Groscove comenta que a dificuldade maior não foi no momento em que estava especificamente empreendendo por si, mas quando quis trazer pessoas pretas para dentro do seu negócio. “As pessoas tendem a não respeitar muito o profissional que é preto. Quando os coloquei na linha de frente, foi difícil em relação à visão do público, por isso que eu acredito que quando se fala de cargos de alta gestão, geralmente pessoas pretas tendem a suportar um pouco mais o processo”, finaliza.