Viva Marielle!

O vereador Paulo Tadeu comenta sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro

A escalada da intolerância no Brasil choca as consciências, desafia a República e desperta o mundo para o esgarçamento institucional que nosso povo assiste entre perplexo e inerte. A explosão da violência foi reduzida à disputa entre o bem e o mal, mais cadeia e mais repressão.

Ocorre que as chamadas ações de segurança no Brasil se dirigem prioritariamente às áreas geográficas pobres, onde supostamente estariam as sementes da criminalidade. Décadas de esforço estatal na formação, aparelhamento, modernização e capacitação dos aparatos de segurança não conseguiram avanços na redução do crime.

Temos hoje a quarta população carcerária do mundo, o número de agentes de segurança públicos e particulares rivaliza-se com o número de professores. São dados que demonstram com clareza que o modelo de enfrentamento policial e militar, por si só, não resolve, por mais preparados e equipados estejam as forças de segurança. Neste quadro onde as maiores vítimas são os pobres e favelados, surgiu a figura corajosa de Marielle Franco.

Liderança determinada, dialogou, mobilizou, conscientizou, protestou em amou o que fazia. Do inconformismo localizado transitou para o embate de ideias, a denúncia contra a opressão e a defesa da população mais pobre das favelas cariocas. Chegou à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, de onde sua voz transcendeu o plenário para ecoar pelo Brasil inteiro, discursando e dando exemplo de sua fé inabalável na luta por Justiça e Paz.

Marielle tombou no último dia 14, executada, nove tiros calaram sua voz e tiraram a vida do motorista Anderson Pedro Gomes, que trabalhava para dar sustento à sua família, também vítima deste estado de coisas. Um crime contra uma mulher negra, uma líder popular promissora e destemida. Já não está entre os familiares, os amigos e as milhares de pessoas que se viam representadas por ela.

A morte envergonha ainda mais uma Nação já humilhada pelos descaminhos de um golpe político, judiciário e midiático, uma Nação de joelhos, subalterna e “caninamente” obediente aos interesses americanos e do grande capital. Marielle foi executada, Marielle vive na memória e compromisso dos que ficam unidos na dor e fortalecidos pelas sementes que lançou. Viva Marielle!

* Paulo Tadeu é vereador, ex-prefeito de Poços de Caldas e médico veterinário. E-mail: ptsdarcadia@gmail.com