Notas de cinema: O Destino de Uma Nação

O crítico de cinema Marcelo Leme comenta sobre O Destino de Uma Nação, em cartaz em Poços

O Destino de Uma Nação, em cartaz no Centerplex de Poços de Caldas, é um filme para Gary Oldman explorar seu reconhecido talento de intérprete. O ator, sabe-se, não precisa de confirmação alguma. É um gênio. Aqui ele vive Winston Churchill durante o tempo em que este tornou-se Primeiro Ministro inglês lá no meio da segunda guerra mundial. Um homem talentoso e impiedoso com as palavras. Oldman é hábil ao dizer cada uma delas. Mas… quando se tem o mas não é legal.

Mas essas palavras mais parecem um grande compilado de frases soltas pesquisadas em algum site de coletânea. São meras palavras. Motivacionais, mas – de novo – meras. Gary Oldman vai muito bem até mesmo relegado a frases prontas. Felizmente ainda há sua concepção de personagem, suas dicções, seu tempo e seu corpo. Um extraordinário ator corporal. Não podemos deixar de elogiá-lo.

E o que mais o filme é senão Oldman interpretando um velho Churchill? Uma competente retratação de um importante fato histórico que ainda traz outras grandes personalidades, como Rei George VI e Neville Chamberlain? Poderia ser, caso os personagens e o contexto não fossem somente coadjuvantes da estrela que cheira a whisky pelas manhãs. Então é competente pela técnica. Eis um elogio burocrático.

Também é dirigido pelo londrino outrora promissor, Joe Wright, de Orgulho e Preconceito (2005) e Desejo e Reparação (2007). O cara abandonou sua ânsia de cineasta autoral ao adaptar célebres romances para conduzir uma cinebiografia simpatizante. Triste.

De pertinente só a imagem. Essa sim é formidável! Devemos ressaltar a fotografia de Bruno Delbonnell. A cena inicial quando a câmera se desloca mostrando os vários homens longe do front decidindo estratégias para lidar com a ameaça de Hitler consegue retratar brilhantemente aquele micro universo escuro.

Outras cenas similares se repetirão em planos concisos, eficientes na abordagem em colocar todos muito próximos da câmera e em locais fechados, quase que enclausurados. Taí um símbolo da situação. E é um deleite aos olhos. O Destino de uma Nação foi indicado ao Oscar na categoria de melhor filme. Um exagero medonho.

Parece ser obrigatório na academia dar atenção a cinebiografias, não importando a qualidade do filme. Daria para considerar, pelo menos, uns 20 filmes melhores e relevantes para estar em seu lugar. Mas…

Avaliação: 3/5

* Marcelo Leme é crítico de cinema, roteirista e curador do FestCine Poços de Caldas. E-mail: marceloafleme@gmail.com | Instagram: @marceloafleme